terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pulp em Paredes de Coura


Dez anos depois do fim dos Pulp eles regressam como os reis que nunca conseguiram ser. É que dez anos depois os putos que os ouviam cresceram - no entanto aquelas canções aguentaram o peso da idade. Ao contrário de, hummm, uns tais Oasis.....
Porque se trata de Jarvis Cocker e seus muchachos podemos dar-nos a exageros, subjectividades avulsas, afirmações grandiloquentes da treta. Por isso, é com muita alegria que se afirma que: o regresso dos Pulp aos palcos - este 18 de Agosto estão em Paredes de Coura - mesmo sem novas canções, foi a melhor notícia que os melómanos formados nos anos 1990 receberam na última década.
Há uma certa justiça poética nisto: é que em 1994, antes de editarem "His'n'Hers", ninguém dava um pataco furado pelos Pulp. Mesmo durante a febre da britpop, ali em meados dos anos 90, quando Cocker e comparsas debitavam single perfeito atrás de single perfeito nunca foram eles a estar no centro das atenções, divididas que estavam as ondas hertzianas entre os Blur (herdeiros dos Kinks) e os Oasis (herdeiros de um monte de entulho !!!).
Por isso é engraçado que dez anos após fecharem oficialmente as portas, os Pulp sejam olhados com uma reverência que não se atribui aos restantes dos idos de 90. Em parte porque quem com eles cresceu ficou órfão do único tipo que lhes tinha dito: "Não faz mal tropeçar nos atacadores, não faz mal usar as camisas rosa choque da irmã, não faz mal entrar em casa da vizinha para roubar os soutiens do cesto da roupa suja, levá-los para casa e cheirá-los". O tipo que lhes tinha dito: não faz mal ser anormal - mesmo que no fundo queiras ser normal.
É nisto que reside a ascendência de Jarvis Cocker sobre todos os outros : muitos tinham canções, mas só ele tinha grandes canções que legitimavam o desconforto, o não saber como abordar uma rapariga, a falta de gosto a vestir, os complexos de inferioridade, and so on.....
São dez anos de orfandade, dez anos em que a geração que idolatrou o senhor C. cresceu, não arranjou emprego fixo - o que é muito Pulp -, se calhar aprendeu a vestir-se um pouco melhor e com sorte sacou uma garota e teve filhos.

Excerto da excelente crónica de João Bonifácio in "Ípsilon, do Público".

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