sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

The only band that matters........


Os meus amigos sabem que há duas coisas em que sou completamente faccioso : futebol e música. Se quanto à primeira, o meu coração só tem uma cor, azul e branco :), em relação à segunda sou fundamentalista islâmico, tipo Hamas, dos The Clash.
Tudo começou (era uma vez.....) na cave da casa de um amigo meu. Tínhamos nós 12 ou 13 anos e depois da escola, juntávamo-nos religiosamente lá, para ouvir a composta discografia do tio dele, rapazito mais velho que nós e entendido da matéria.
Foi lá que ouvi pela primeira vez Rolling Stones, que fiz a primeira viagem a Marte com o David Bowie, que percebi que Led Zeppelin não era nome de dirigível(...) e que conheci o grupo de que vos falo : The Clash.
O que me prendeu à atenção, numa primeira fase, foi a capa do disco. Um elemento do grupo a esmagar a guitarra no chão em pleno concerto. Naquela idade parecia suficientemente irreverente para conhecer o conteúdo.
Assim foi, retirado o plástico do disco, inserido o LP e programadas as 33 rotações, agulha no sitio e toca então a ouvir o vinil.
Começa a tocar "London Calling", primeira música e homónima do álbum , que profetiza uma 3ª guerra mundial armada de guitarras, e com a voz única de Joe Strummer. Refeito do primeiro choque, segue-se um infindável rol de harmoniosos estilos musicais, o ska de "Jimmy Jazz", o rock de "Clampdown", o reggae de "Rudy Can´t Fail", o rockabilly de "Brand New Cadillac", o politicamente incorrecto "Spanish Bombs", que fala da Guerra Civil espanhola e da morte do poeta Garcia Lorca à mão dos franquistas, e o inquietante "Guns Of Brixton" que relata uma noite de crime que podia ser bem em Brixton, NY ou na Quinta da Fonte.
A partir deste momento o meu conceito de música nunca mais foi o mesmo. As idas à cave eram pretexto para ouvir, voltar a ouvir e re-ouvir até mais não essa pérola, ao que o meu amigo Pedro Balhau não achava grande piada.
O segundo passo (sim porque o Balhau preferia os Spandau Ballet e os Duran Duran), foi juntar uns escudos das semanadas e uns choradinhos lá em casa, e comprar um gira discos. Mas este só funcionava se tivesse discos. Então no Natal junto com as meiítas e os pijamas, prendas habituais da quadra, lá vieram no sapatinho o politizado "Sandinista", disco triplo vendido ao preço de 1, e o aclamado "Combat Rock".
Escusado será dizer que estive fechado dias e dias em casa a ouvir os discos, a cantar as músicas e a decorar as letras, coisas de putos(...).
A partir daí, nas paredes do meu quarto, conviviam religiosamente os posters do FCP, do Futre, do Maradona e do Vialli, com o meu quarteto musical preferido, para desespero da minha mãe, pois a fita cola tirava a tinta da parede.
O meu fundamentalismo continua então até hoje, 25 anos depois de os conhecer. Após ter tido o privilégio de ver o Joe Strummer (já os Clash estavam extintos) em Vilar de Mouros, num concerto infestado de mosquitos, que não me demoveram das primeiras filas. Depois de ter chamado Clash ao meu cão, fiel companheiro de 12 anos. Depois de ter tido consciência social e política por causa deles .
Tudo isto para falar de uma banda, que alguém importante do meio jornalista musical, um dia apelidou ser "the only band that matters".....

3 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, meu Caro, tudo tem uma razão de ser e um percurso lógico e natural. Dos Clash aos Pixies vai uma distância grande, mas não desprovida de sentido ou coerência lógica. Curioso à época, vocês, "putos" mais imberbes (desculpa Miguel, mas, à época, meia dúzia de anos faziam TODA a diferença) terem o acesso facilitado a toda esta informação a que nós, mais velhos, pouco tempo antes, também conhecemos. recordo tempos incríveis em termos de criação musical, pós punk, a que a new wave veio dar um lufada de ar fresco (Joe Jackson, Talking Heads, etc.), sendo os Clash uma das bandas de ponta na ligação entre o punk e o pop posterior (os Duran Duran do Balhau, por exemplo, talvez por afinidades capilares… de penteado, entenda-se!). Repara que os Clash são pioneiros na utilização da capa e nome de um album para veicular uma mensagem de intervenção (Sandinista, logo um triplo!). A este propósito estou em crer que (mujito provavelmente) o primeiro exemplar do bairro desse magnífico triplo estava na tua rua, junto ao sobreiro…(claro que estou a falar do Barreto!), exemplar comprado na discoteca Roma, em Lisboa, prensagem espanhola e que eu vi no Jardim da Sereira numa eliminatória do saudoso "Só Rock" (1981). Pois é, o disco siau em 1980, mas só "cá" chegou em 81. Mas enfim, são apenas recordações. De notar que após o "London Calling", outra jóia da coroa de Strummer and friends (or not!), o sandinista possibilitou outra visibilidade à banda, também através das pistas de dança (Magnificent Seven, por exemplo, que ainda hoje é um clásssico…). Mas enfim, muito haveria a recordar… Outro dia falaremos dos sucessores: Manchester (Factory records e seus rebentos) e Bristol (Maasive Attack, etc.).

Claro que tudo isto era seguido religiosameente através dos programas de culto da rádio portuguesa de então: Rock em Stock, Som da Frente, RollsRock, só para falar de alguns…

Bons tempos…

RP

missHoneyWhite disse...

Bem, eu mais imberbe serei, mas partilho esse gosto pelos The Clash. Não ao estilo Hamas (aí vou mais para os Morphine :p ), mas gosto, muito!
Prepara-te que vou escrutinar aqui o teu blog assiduamente!!! (ainda por cima não dás erros ortográficos... é que isso já me demoveu de muitos outros LOL)
Beijos nossos.

Mi9uel disse...

Querida Joana, será um prazer ter-te aqui assiduamente, este modesto blog só tem a ganhar com a tua presença.
Quanto aos erros ortográficos, eu sou da "velha" escola, em que sentiamos vergonha em escrever (e falar) mal a língua de Camões.
Ainda não se falava de acordos ortográficos e outros atentados linguísticos.
Beijos e abraços aí para casa